Os 120 anos de Maio<br> nos nossos dias de lutar
Mais do que prestar uma justa homenagem aos milhões de trabalhadoras e trabalhadores que, ao longo da história, não baixaram os braços e decidiram exigir das classes dominantes melhores condições de vida, a comemoração dos 120 anos do 1.º de Maio na Festa do Avante! veio evidenciar as conquistas alcançadas e acentuar a necessidade de hoje seguir esses exemplos, para travar a ofensiva do capital, preservar os direitos alcançados e ganhar forças para mudar o rumo da política nacional.
Celebrado pela primeira vez como Dia Internacional dos Trabalhadores em 1890, o 1.º de Maio foi presença forte no Espaço Central. Na exposição 1.º de Maio, 120 anos – Contra a exploração, pelos direitos dos trabalhadores e o progresso social fez-se uma viagem até ao Manifesto do Partido Comunista (com uma reprodução em grande formato da capa da 1.ª edição, de 1848) e à fundação da AIT, com citações de Marx e uma ampliação da convocatória para a manifestação na Praça Haymarket, em Chicago, a 4 de Maio de 1886, contando como dali se espalhou uma internacional onda de solidariedade operária, que iria desembocar no apelo para o primeiro 1.º de Maio, saído do congresso fundador da II Internacional, em Paris, no dia do centenário da revolução francesa. Alternando painéis com fundo vermelho ou negro, lembrou-se as razões por que a redução do horário de trabalho ganhou então grande importância na luta dos trabalhadores, evocou-se Lénine (numa grande fotografia e no som de um seu discurso) e a revolução russa, com a jornada de oito horas entre os primeiros decretos do poder soviético.
Comemorado em Portugal desde o primeiro ano, o 1.º de Maio continuou a ser assinalado durante a ditadura fascista e, em 1962, impôs-se como a mais importante jornada de luta contra o fascismo. Lembrando esta afirmação de Álvaro Cunhal, um painel com imagens da repressão policial tinha também a ilustração sonora correspondente, com som de cavalos e gritos de resistência. Mais adiante, num ecrã táctil, podia-se desfolhar e ampliar exemplares digitalizados do Avante! e outros documentos desses anos. Do 1.º de Maio de 1974, gigantesca afirmação do apoio popular ao MFA e à revolução, em todo o País, foram apresentadas várias fotografias e um filme com a intervenção de Álvaro Cunhal no Estádio que nesse dia mudou de nome e que cinco anos depois foi negado à CGTP-IN. Os passos da contra-revolução ficaram ainda marcados no Maio de 1982, no Porto, e nos anos de 1998, 2002 e 2010. Ao fim de «120 anos a conquistar direitos», esta é «uma luta que continua» - lembrando a grande manifestação de 29 de Maio último e apelando à participação no próximo dia 29 de Setembro.
Uma «viagem» semelhante, de duas boas horas de conversa entusiasmada e que evocou mesmo as lutas dos escravos como início da epopeia de Maio, ocorreu ao fim da tarde de sábado, durante o debate Nos 120 anos do 1.º Maio - A luta dos trabalhadores, motor da história, com Paulo Raimundo e João Dias Coelho, membros da Comissão Política do PCP, Arménio Carlos, do Comité Central e dirigente da CGTP-IN, Valter Lóios, do Comité Central e dirigente da Interjovem, e José Ernesto Cartaxo, que durante muitos anos foi dirigente da CGTP-IN e do Partido.
Ali se assinalou que ao 1.º de Maio estão ligadas muitas das maiores lutas dos trabalhadores e que o Dia Internacional mostra do que é capaz a força de quem trabalha, que até conseguiu pôr fim à exploração do homem pelo homem. Realçou-se a importância de haver um partido de classe capaz de dirigir a luta dos trabalhadores, tendo esta um objectivo qualitativamente novo, que é a conquista do poder. Admitiu-se as dificuldades várias que obstam ao desenvolvimento da organização e participação dos trabalhadores (em especial no local de trabalho, espaço privilegiado do confronto de classes), contrapondo que, mesmo nas mais difíceis condições, a luta acaba por se traduzir em resultados positivos, como a jornada de oito horas para os assalariados agrícolas, em 1962, ou a «semana inglesa» para os caixeiros, após a luta de 1971, mas também como sucedeu no mais recente combate contra o Código do Trabalho, que travou na prática o pretendido alargamento dos horários sem pagamento de trabalho extra.
Dar o rumo justo
Da importância da luta dos trabalhadores e do reforço dos sindicatos de classe e dos partidos comunistas se acabou por falar, igualmente, no debate de domingo à tarde, no Fórum, sobre A crise do capitalismo e a luta dos povos, com Albano Nunes e Jorge Cordeiro, membros da Comissão Política do PCP, Tiago Vieira, do Comité Central, dirigente da JCP e presidente da FMJD, e João Ferreira, deputado no PE.
Se a crise financeira que eclodiu no final de 2008 mereceu ajudas trilionárias dos estados, para evitar a derrocada do sistema financeiro e esconder que ela tem origem nas contradições do capitalismo, tal não evitou que hoje se mantenha grande instabilidade e os problemas de fundo persistam, visíveis no crescimento do desemprego e da pobreza nos EUA e na Europa, enquanto crescem os perigos de a crise da economia alastrar para os campos político e militar. Sendo manifestação de uma crise permanente, ela não terá solução no quadro do sistema capitalista, o que abre um grande potencial para a intervenção ideológica dos comunistas, que devem reforçar a sua influência, para alcançar transformações progressistas. A não ser assim, o capital poderá ter condições para desferir golpes ainda mais profundos. Os tratados da UE, contrariando ilusões federalistas, têm servido para amarrar os países a um tipo de desenvolvimento capitalista e, enquanto há complacência para os responsáveis pela crise e o capital acumula lucros inéditos, para as vítimas da crise já existem as medidas do PEC.
A luta pela transformação social deverá estar presente em todas as batalhas e a ruptura para um novo rumo, na perspectiva da sociedade socialista, pode estar mais perto do que agora parece, sendo indispensável que os comunistas tenham condições para comparecerem no local e no tempo certos e para darem o rumo justo à luta, alcançando novos patamares do progresso social.
O apelo ao empenho de todos no esclarecimento, na organização e na mobilização dos trabalhadores e do povo para este combate surgiu discreta mas exemplarmente retratado num comentário de uma camarada, no microfone oferecido ao público do Fórum. «A minha intervenção é por lá, com as pessoas» - e o que era para ser uma espécie de desculpa por algum defeito de oratória acabou por ser o ponto de partida para os dias de lutar que hoje estamos a viver.
DM